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O Guaraná, Maués e as histórias em meio a Amazônia

Todo mundo já tomou alguma vez na vida alguma bebida à base de Guaraná. E, em uma das principais delas (o Guaraná Antarctica), todo mundo já viu menção a ser o Original do Brasil. Mas, mais do que isso, podemos dizer que o Guaraná original mesmo é o de Maués.

Distante 250 quilômetros de Manaus, a cidade de Maués é conhecida como a "Terra do Guaraná". Mesmo com dificuldades de acesso ao local (só se chega lá via aérea ou viajando mais de 18 horas de barco), é lá, no coração da Amazônia, que a Ambev mantém a sua plantação de Guaraná.

Isso tem uma justificativa muito simples: é nestas terras que se passa a Lenda do Guaraná. E é a tribo Sateré Mawé (cujo nome remete ao nome do município) que protagoniza esta lenda e que aprende a domar a trepadeira silvestre. É o povo indígena Sateré Mawé também que descobre o processo de beneficiamento da planta.

Com o desenvolvimento das técnicas, dizer que o Guaraná é de Maués virou um sinônimo de qualidade. Ainda assim, lá existem dois tipos de Guaraná. O produzido pelos indígenas e o produzido pelo "homem branco". Existem diferenças nos processos de torra e de beneficiamento do fruto.

Em Dezembro, a convite da AmazonasTur, estivemos em Maués para conhecer não só o cultivo do Guaraná e a tribo Sateré Mawé, mas também a Festa que celebra este fruto. Em 2019, ocorrerá a 40ª edição da festividade.

A visita tribo Sateré Mawé

Logo no primeiro dia na cidade, o foco era conhecer o povo indígena que domesticou o fruto. Foram duas horas de viagem do centro de Maués até a tribo com uma voadeira. Todos estávamos ansiosos. Chegando lá, uma imersão cultural nos aguardava.

Passamos um pouco mais de uma hora na tribo. Mas trata-se de uma visita inspiradora. Para os índios, tudo começa sempre com um ritual de recepção. Boa parte do tempo em que lá estivemos foi nesta roda de convívio com esta tribo. O objetivo é simples, mas ao mesmo tempo complexo. Ao recepcionar os visitantes, os Sateré Mawé celebram a chegada deles com o fruto que os caracteriza: o guaraná. Em uma roda, um a um, cada um dos participantes se revezam para beber o Guaraná ralado na hora pelos indígenas. Um ritual que representa a boa recepção dos locais e a mostra de que a raíz cultural Sateré Mawé segue sendo cultivada diariamente.

Apesar de já contarem com energia elétrica em algumas áreas da tribo e com até tv via parabólica, os indígenas fazem questão de transmitir aos jovens toda a tradição da tribo para manter viva a raíz indígena. Isso não os impede de ter uma ideia inovadora. Com o apoio da Funai, a tribo está abrindo suas portas para turistas no que eles optam por chamar de um intercâmbio cultural. Recebendo turistas (que podem, inclusive, pernoitar em uma maloca), eles buscam aprimorar o cultivo das suas raízes e compartilhar as suas experiências com pessoas de todo o Mundo. Para alguns, é um contraponto a isso, mas, para os indígenas, é um complemento a este cultivo à tradição.

As aulas da escola local de ensino Fundamental são dadas de maneira bilingue na comunidade. Todo mundo precisa saber falar português e a língua mãe da tribo. Também como parte da formação destes jovens índios está o curso de Agroecologia. O conceito é simples: aprender a cultivar junto à floresta os alimentos para manter boas refeições.

O resultado deste curso foi a refeição preparada para nós visitantes durante nossa breve passagem pela tribo. Vale na alimentação indígena o que é cultivado na sua tribo ou em tribos vizinhas. Para nos receber, uma mesa farta. Tinha mandioca, graviola, abacaxi, farinha e formiga. Sim, uma das experiências na aldeia foi degustar essa iguaria que é preparada sem temperos, frita, mas tem um leve sabor de limão.

Visitar a tribo nos leva a refletir. Ao mesmo tempo que nossas vidas são cada vez mais corridas, cabe aos índios ditar o ritmo com que o tempo passa. Aprender a administrar o tempo é uma das principais virtudes que eles precisam desenvolver para saber como garantir a fartura diária nas refeições, por exemplo. Sem tantas distrações como nós, eles focam em coisas simples, tradicionais, mas também investem em iniciativas inovadoras.

Coube a este povo domesticar o Guaraná. E justamente nesta terra que os homenageia em seu nome. A sabedoria dos moradores locais e a proteção de Tupã (deus indígena) para esta plantação na Terra do Guaraná são fundamentais para a produção do melhor Guaraná. Para nós, "homens brancos", pode não passar de uma bebida. Para os moradores de Maués, o Guaraná é mais do que isso. É o sustento das famílias, é a ligação deles com a história da cidade e de todo um povo indígena. É uma bebida sagrada.

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